CUIDADO: Quando as multas de trânsito surgem de todo o lado

Luís recebeu “oito ou nove” no mesmo dia, Lourenço acumulou “mais de 40”, Francisco foi surpreendido à porta de casa e Lígia não só teve de pagar como acabou detida na autoestrada. Viagem à fronteira entre prevenção rodoviária e caça à multa

Primeiro apareceram as de excesso de velocidade, a conta-gotas. Multas por conduzir acima do limite de 50 km/h na Avenida Brasília, em Lisboa. Só meses depois surgiram as outras, 13 de rajada, já com as “manchas negras” na matrícula como infração dominante.
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Tanto reportam aos últimos dias de 2014 como aos primeiros de 2016 ou a meados de 2015, mas recebeu-as todas em outubro passado. Duas são repetidas: o mesmo local, a mesma data, a mesma hora, apenas a referência multibanco a diferenciá-las. “Um dia fui ao correio e tinha lá oito ou nove multas. As primeiras de velocidade fui pagando, mas às tantas comecei a ver que isto não era normal.”

Não é normal para o fotógrafo Luís Nogueira, 44 anos, na mesma medida em que é incompreensível para Lourenço Almeida, 28, comerciante de automóveis. No primeiro semestre de 2016 perdeu a conta aos “sacos de multas” que acumulou, por infrações registadas nos radares fixos de capital. Duas em especial deixaram-no incrédulo: segundo os autos de contraordenação, na véspera de Natal de 2014 foi apanhado a circular a 75 km/h no Túnel do Marquês de Pombal, às 13 horas em ponto, e dois minutos mais tarde estava a ser detetado, a 72 km/h, no radar do Campo Grande, três quilómetros e 12 semáforos depois. “Só de Fórmula 1. Ou nem isso. Só de avião”, diz à VISÃO, indignado. “É um abuso de autoridade. É literalmente caça à multa.”
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Radar fixo na Av. da Índia, em Lisboa

A fronteira entre prevenção rodoviária e fiscalização orientada para os euros não está desenhada a régua e esquadro. Na geografia do Código da Estrada nem sequer tem lugar definido no mapa. Porque onde uns ainda só veem preocupação com a segurança já outros identificam, há muitos quilómetros, território de receita fácil.

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